SEXO, CARLA BRUNI & BERLUSCONI

By Paloma Weyll - maio 13, 2009


Eu tinha dito a mim mesma que a minha próxima crônica teria como título “Manjericão”. Já estava com o discurso em fase de elaboração, tinha feito algumas anotações, contudo, um e-mail que recebi hoje de manhã mudou tudo. O conteúdo do e-mail era esse arquivo  de vídeo que vocês devem ter acabado de ver. Bem, vocês devem estar se perguntando o que esse vídeo tem a ver com “Sexo, Carla Bruni & Berlusconi”, certo? Nada. Absolutamente nada. Assim como esta crônica. 

A minha inspiração para este título veio de um artigo de Clóvis Rossi publicado no Jornal A Folha de São Paulo de hoje (“A gritaria, a crise e Carla Bruni”) que , por sua vez,  inspirou-se em Moisés Naim, editor da revista “Foreign Policy” (“Sexo, Clooney e Berlusconi”). Naim resolveu colocar um título que não tinha nada a ver com o conteúdo de sua coluna com o intuito de chamar a atenção do público que se interessa cada vez mais por assuntos do show business ou por fatos pitorescos (Berlusconi, a Lolita e a mulher)  e menos por assuntos de relevância mundial (crise econômica, guerras, etc). Depois do e-mail que recebi hoje, eu me solidarizo a essa causa e faço um joguete com os dois títulos. 

Em Brasília o caos! É a farra das passagens aéreas, dos super-patrimônios, do caixa dois de campanha, dos mais de 50 cargos de Diretores (inclusive o Diretor de Garagem), do mensalão, de nepotismo, de político que não está nem aí para a opinião pública e tantos outros que eu vou omitir para não gastar toda a minha cota de armazenagem neste blog. Ficamos indignados, a televisão endossa, o assunto é capa das revistas semanais, o Congresso resolve abrir uma CPI ou anuncia uma reforma que não dá em nada. Não dá em nada por que demora. Demora porque os políticos sabem que os brasileiros têm memória curta.  

Por parte da sociedade, como frutos dessa indignação surgem manifestações locais, produção de peças ou quadros de programas que circulam pela internet. Transformamos a vergonha em piada. E os políticos nem se importam. Não muda nada. 

Um professor da Universidade de Cambridge, Ha-Joon Chang, escreveu um dos meus  livros preferidos “Chutando a Escada”. Nele, Chang demonstra com maestria como os países desenvolvidos literalmente “chutaram a escada” ou “puxaram o tapete” dos países em vias de desenvolvimento ao instituírem regras políticas e econômicas que atendem unicamente aos seus interesses, contribuindo para o aumento da sua riqueza.

Mas o ponto do livro que me faz lembra da situação em que estamos hoje é a necessidade dos países construírem Instituições sólidas. De acordo com Chang, essa é uma das poucas formas existentes para garantirmos a transparência, imparcialidade e  moralidade nos países. Geralmente eu evito comparar o Brasil com os outros países, mas nesse caso não dá. No Japão, se um político rouba, ele fica tão envergonhado que se suicida. Na China, político corrupto é condenado à morte. Na Inglaterra, o fato de alguns parlamentares terem usado indevidamente a verba parlamentar (para compra lâmpadas minha gente!) faz com que o Primeiro Ministro peça desculpas à nação. Todos esses países têm Instituições Políticas diferentes, mas se assemelham em um ponto: a necessidade de se manter a confiabilidade das mesmas. Se uma autoridade comete um ato ilegal, ele precisa ser punido para não corromper o sistema. 

Adicionalmente, temos nós, o povo, que não conseguimos perceber até agora o sentido e importância da palavra sociedade. Quando a Danone anunciou que iria fechar a sua fábrica na França, a Europa inteira se juntou ao boicote! Os mercados exibiam os produtos, mas ninguém comprava. Se alguém tentasse, era advertido pela caixa do mercado ou pelo gerente do estabelecimento que se recusava em vender o produto.  Aqui no Brasil, nós repassamos e-mails, filminhos de comédia e só. Como diz a música do Skank “a nossa indignação é uma mosca sem asas que não ultrapassa a janela de nossas casas”. Uma pena. 

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1 comentários

  1. Consegui ver o vídeo, Paloma!
    É uma vergonha mesmo, pena que ainda não escrevo tão bem pra colocar minhas opiniões by myself no meu Blog.
    Enquanto isso vou dando voz às minhas idéias (ops, agora é ideias) com os textos de outras pessoas.
    Ah, e te prepare, qualquer dia vou usar suas palavras pra isso...rsrs
    Beijos.

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