REALITY SHOW

By Paloma Weyll - setembro 01, 2009

Nesse fim de semana eu tive a oportunidade de conversar com um jornalista das antigas, Orlando Santos, durante um longo almoço. Foram horas extremamente agradáveis e eu realmente ansiava por isso. Não é todo dia que a gente encontra pessoas com opiniões PRÓPRIAS formadas sobre assuntos específicos. Ouvir gente assim é como receber uma rajada de vento fresco na cara, te acorda pra vida.

Com relação ao nosso papo, não me lembro bem por que, mas terminamos abordando a questão do Congresso. A vergonha que são os nossos políticos, nesse caso específico Sarney, e o surto retardado de indignação de Suplicy. Lá ia eu, tecendo teorias mirabolantes e fundamentadas sobre a raiz desse nosso mal, da fragilidade do nosso sistema, blá, blá, blá, blá, blá blá, aproveitando uma das raras oportunidades em que encontro pessoas dispostas a debater sobre isso. Ele me ouviu, concordou, mas me deu uma opinião que me tirou do eixo e jogou um balde de água fria em toda a minha teoria. De acordo com Orlando, o problema dos nossos politicos é que eles simplesmente perderam a noção do que é a REALIDADE. Se acostumaram com uma vida cheia de privilégios, vivendo em um mundo à parte e já não conhecem mais os problemas diários da população. Ele citou inúmeros exemplos: Eles (os políticos) não enfrentam problemas com o serviço de saúde pública ou até mesmo de plano de saúde. Têm à sua disposição os melhores médicos e hospitais do país e, se necessário, procuram outro médico fora do país (às custas do governo). Com a economia que fazem mensalmente (saúde, moradia, passagens de férias, etc gratuitos), podem pagar uma excelente educação para os seus filhos (em colégios e Universidades de ponta) e se dar ao luxo de terem inúmeros empregados à disposição (secretário particular, empregados domésticos em diferentes cidades, motoristas, etc). Dada a sua condição de autoridade, não precisam pegar a fila no Detran, Bancos, cartórios, etc. Os que convivem há muitos anos nessa idílica rotina perdem até a noção do que é a MORAL. Não é à toa que quando pipocou aquele escândalo das passagens aéreas, vimos logo que nem os políticos que julgávamos menos piores se safaram e a maioria ainda insistiu que não havia nada de errado em usar a sua cota para passear com a família pela Europa. Sarney, por exemplo, disse em sua defesa no Congresso que em mais de 50 anos de política nunca tinha feito nada de IMORAL. Totalmente sem noção. Suplicy, por outro lado, apenas semanas depois do início do escândalo resolveu dar um cartão vermelho para Sarney. Todo mundo ficou passado. Bem vindo à Brasilândia: A terra dos SEM NOÇÃO.

Diante de um ponto de vista tão inusitado, mas perfeitamente plausível, acho que eu deveria aproveitar que moro no Rio de Janeiro e sugerir a uma dessas empresas de TV que lancem um novo reality show, estilo àqueles de troca de família, troca de cabeleireiro, troca de tatuador, de filhos, etc. Façamos o TROCA de EMPREGO! O político deveria trocar de emprego com um trabalhador normal durante pelo menos 1 mês. Deveria trocar de casa também, assim a imersão seria total. Seria o chefe de casa de uma típica família brasileira. Levantaria às 3 da manhã para ir ao trabalho, pegaria ônibus, demoraria 3 horas para chegar ao trabalho, chegaria em casa quase 9 da noite (com sorte), daria uma atenção medíocre à mulher e filhos e cairia na cama. No dia seguinte, começaria tudo mais uma vez. Caso tivesse que ir ao médico, deveria dormir na fila do hospital para pegar a senha e perder um dia do trabalho (correndo o risco de levar uma bronca do patrão, que não aceitaria a sua justificativa). Durante o reality show poderíamos rezar para que houvesse uma greve de ônibus, para que ele sentisse na pele o sacrifício que 90% da população sofre. Há!! E o salário! O ideal é que ele tenha que gerenciar seu orçamento familiar com um salário mínimo mais uns trocadinhos de bicos. Quem sabe assim, com esse choque de realidade, ele se lembre das reais necessidades do povo brasileiro?

No outro lado, colocaríamos o típico brasileiro vivendo um dia de político, com todas as mordomias e regalias possíveis. E sinceramente, acho que, inicialmente, ele ficaria chocado.

O que vocês acham? Devo procurar as empresas de TV? Elas estão se matando tanto por audiência que talvez essa idéia cole. Mas devo confessar que, inicialmente, tinha pensado em propor um projeto de lei onde os políticos de tempos em tempos fossem obrigados a fazer uma reciclagem (em forma de estágio probatório). Afinal de contas, qualquer profissional que se preze DEVE passar por uma atualização, sob pena de ficar defasado e colocar em risco a vida das pessoas (médicos, engenheiros, etc). Mas como eu sei que essa lei sequer seria votada, talvez nesse caso a imprensa ajudasse um pouco. Só não sei se o efeito do programa seria bom. Poderia dar um efeito colateral não desejado: a população poderia adquirir ALERGIA fatal a determinados tipos políticos. Será que vale a pena correr o risco? (rsss)

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1 comentários

  1. Chocada!! nunca tinha pensado por esse ponto de vista. Isso pode de fato acontecer, mas toda regra tem a sua excessão. Seria incrível um programa deste tipo. Eu seria a primeira a me candidatar, apesar de ser privilegiada em relação a maioria da população. Meu dia a dia é muito corrido, muito trabalho (graças a Deus) e o salário ,óoooooo...

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