Respeitem os meus cabelos brancos ...

By Paloma Weyll - janeiro 10, 2010

Oi! Não é assombração. Sou eu mesma. Voltei. Nem eu acredito. Já estava prestes a encerrar o meu blog. Não tinha mais vontade de escrever. Só estava dando mais um tempo. Para quem não me conhece, escrever me ajuda a superar momentos difíceis. Abre a minha mente para possibilidades que eu, sem escrever, não consigo internalizar. Mas hoje, para minha surpresa, tive vontade de escrever. Não para superar algo, mas para me manifestar.
Tenho 31 anos, sou casada, feliz, estável financeiramente (graças à Deus) e quase todos os que me conhecem (e os que mal de conhecem também) fazem uma pressão nem sempre velada sobre quando irei ter filhos. Isso já me incomodou muito um dia. Hoje me incomoda de uma forma diferente. Me sinto como uma vaca leiteira, cuja único valor nessa vida é crescer, engordar e parir. Se um bebê ou criança se aproxima de mim, esperam que eu diga coisas como “que cuti-cuti”, “lindinha da titia!” ou que, pelo menos faça algum esforço e admire a criança com olhos de manteiga derretida. Desculpem, mas não dá. Não sou insensível. Tenho uma afilhada e para ela tenho vontade de dizer todas essas coisas. A amo com uma verdadeira paixão! Daqui a pouco terei uma nova sobrinha que terá o mesmo tratamento, mas morre aí. Hoje eu não tenho a mínima vontade de ter filhos. Fim. 
Nem sempre foi assim, é verdade. Lembro-me que lá nos meus 21 anos sonhava em engravidar acidentalmente do meu namorado (e atual marido). Assim, teríamos que nos casar e viver em um mundo cor de rosa. Os desafios da Faculdade e depois do mestrado me fizeram superar essa fase. Descobrir novas coisas que me fizeram ver o quanto eu estava enganada. Me casei e passados dois anos de feliz matrimonio, senti uma pressão terrível para ter filhos. Não sei de quem era (minha, meus pais ou sei lá quem). Mas o fato é que em muitas famílias, vende-se a imagem de que o casamento apenas tem sentido se você tiver filhos. Se não os tem, alguma coisa está errada. Ou você não pode tê-los e é infeliz - e por isso mesmo digna de pena, ou é uma pessoa anormal (“como pode não querer ter criaturinhas tão lindas!”). Bem, não os tive. Fiquei sim, triste por um período, tentando então buscar um significado para o matrimonio, mas hoje eu até agradeço a Deus! O papel da mulher é muito limitado pela sociedade. Por mais que estudemos, sejamos independentes financeiramente, algo muito forte nos diz que não seremos mulheres por completo se não formos mães. Algo especial, solene, quase que tocado pelo divino. Não estou gozando desse espírito. Longe de mim. Aqui mesmo, nesse blog, um dos meus primeiros posts foi em homenagem às mães (“Em busca do paraíso”). Mas a minha experiência me disse que esse meu desejo estava atrelado a uma falta de perspectiva sobre a minha própria vida. A minha visão era muito limitada. Ser independente, viver bem era o máximo que eu podia esperar de mim mesma. Hoje, graças a essa ausência, descobri novos sentidos para o casamento, minha carreira, meus sonhos. Descobri e conquistei coisas inimagináveis! Lógico que isso criou um gap entre mim e as mães do meu entorno, que às vezes beira a incompreensão, mas devo todas essas minhas descobertas a ausência dos filhos.. 
Precisamos dar sentido à tudo e a maternidade tem um peso natural nisso.  Talvez alguns dos meus leitores pensem que eu não passo de uma mulher amargurada e ressentida. Os que me conhecem sabem que eu não sou assim. Perdoem-me se ofendo alguns, não é a minha intenção. Eu apenas pretendo abrir espaço para a discussão do papel da mulher na sociedade. Alertar, quem sabe, para que a maternidade não seja utilizada como válvula de escape por algumas. Para que as mulheres entendam que sua condição não é uma limitação natural. O céu é o limite! Que permitam-se viver, conhecer a si mesma antes de colocar uma vida no mundo. Que não deixe para a sua criança a incumbência de realizar os seus sonhos e realize-os por si mesma! E que os outros, que assistem tudo de fora, sejam tolerantes. Que percebam que nem todas nós precisamos nos encaixar em uma forminha específica. Da mesma forma que nem todo mundo precisa se casar, se graduar em uma universidade para ser alguém na vida e por aí vai.  
Sim. Eu não quero ter filhos hoje e isso me basta para ser feliz. O amanhã, só Deus sabe. 

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