Baiano quando sai da sua terra para morar em território alheio já sabe que tem que tomar cuidado com as piadinhas. É claro que isso não se restringe aos baianos, mas só nós temos a maior novidade de todos os tempos para se estressar: A onda do “todo enfiado”.
Pra quem não conhece essa história, uma professorinha foi filmada em sua hora de lazer dançando a dança do todo enfiado. Uma dança deplorável, onde o cantor coloca a mão naquele lugar da dançarina para retirar a coisa que está enfiada. Juro que fiquei com pena da professora e até achei honrada a atitude dela. Apesar de achar que esse tipo de música não acrescenta em nada, ou melhor, atrapalha as pessoas da terra que realmente têm algo a mostrar, tenho o bom senso de saber separar as coisas. Ela estava de folga e tem o direito de fazer o que quiser com o seu tempo livre; até mesmo dançar o todo enfiado. Quando soube que o vídeo tinha vazado para a internet, ela foi na escola, conversou com o diretor e pediu demissão. Depois disso a coitada não teve paz. A impressa ficou tanto atrás dela que eu pensava se algum dia nessa vida ela iria conseguir trabalhar como professora de novo.
Fiquei uns 20 dias fora do ar, viajando, e fiquei surpresa quando soube que ela virou dançarina oficial do grupo que laçou aquela bendita música. Ao contrário de muitos, também não vejo mal nenhum na troca de carreira. Já dizia Maquiavel, se você não pode contra o inimigo, una-se a ele. É a lei da sobrevivência. Que mal tem em se ganhar um dinheiro, fazendo o que se gosta, enquanto o Brasil inteiro fica acompanhando sua saga pela TV??. Sinceramente, mal tem em ouvir o Datena dizer que aqui na Bahia, as baianas andam com tudo enfiado e que isso é normal. Mal, é ter que ouvir Adriana Galisteu, que se diz descolada, informada, usar a nova “sensação” do momento para tentar alavancar a audiência do seu programa (apesar de achar que essa atração não vai atrair o público que ela deseja) e dizer que essa dança é a moda na Bahia e que as baianas adoram dançar assim, enfiadas. Me faz mal perceber até que ponto os nossos programas de televisão vão em busca de audiência, perpetuando um tipo de preconceito que apenas serve para menosprezar e atrair para a Bahia, e por que não para o Brasil?, o tipo de turista que não queremos.
Daqui a alguns dias irei voltar para Rio e terei que conviver com as piadinhas inevitáveis. Ainda bem que tenho bom humor e levo isso uma boa. Mas mas é dose saber que eu estarei enfiada no meu trabalho e na velha rotina, batalhando um dinheirinho suado, às custas de muitas horas de estudo, enfiada em casa, tentando construir uma imagem, uma família, etc, enquanto do outro lado, em algumas horas, alguns poucos ganham em horas o que levo um ano (sendo pessimista), e tudo o que eles fazem é requebrar com aquilo enfiado ou comentar sobre aquilo enfiado.
Pois é. Esse é o meu país, à frente do seu tempo. Seja no Planalto, seja na TV, o que importa é despertar o que existe de “ melhor” em você.